As Sete Virtudes

Por Ahabew Manas

 

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, sem caridade, sou como o bronze que soa, ou como o sino que tine. E ainda que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e tivesse toda a fé, a ponto de transportar montes, se não tiver caridade, não sou nada. E, ainda que distribuísse todos os meus bens no sustento dos pobres, e entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.

(1 Cor. 13:1-7)

O ser humano é movido basicamente pela busca de proteção física, de aceitação social, de satisfação de suas necessidades fisiológicas e de seu desejo de procriação.

 

Nada há de errado nisto. Ao contrário, a Natureza arraigou estas características em nosso instinto, de forma a zelarmos por nossa sobrevivência individual e a perpetuação da espécie humana.

 

Tais características dizem respeito a nosso lado terreno, semelhante (não idêntico) ao dos animais. Dizem respeito a nosso eu inferior.

 

Entretanto, devemos preservar nossa atenção (Mt. 26, 41) direcionada a dois aspectos: 

  • além de nosso lado terreno, temos outro, de origem divina (Gn. 1:26);

  • nosso lado terreno é falível e corruptível.

É extremamente fácil nosso eu inferior cair em exageros, vícios, paixões e perniciosidades, através do desvirtuamento de suas características naturais, acima citadas. Isto ocorre porque nosso eu inferior liga-se ao mundano. Está apartado de nosso lado divino (nosso Eu Superior). Por isso é imperfeito, porque apenas o Divino é Perfeito.

 

Nossas características naturais facilmente degeneram-se em comportamentos danosos a nós mesmos e a nossos semelhantes. São enquadrados nos chamados sete pecados capitais: inveja, avareza, gula, preguiça, ira, orgulho e luxúria. Qualquer outro desvirtuamento é derivação, graduação de um destes, ou mistura de mais de um.

 

Atualmente, cada vez mais, os valores primados pela sociedade e transmitidos a seus membros pela educação distanciam o homem de seu aspecto religioso, de religação a Deus. 

 

Desta forma, cada vez mais, prevalece nosso eu inferior, nosso eu mundano. Nosso Eu Divino praticamente está abafado dentro de nós, como se não existisse.

 

Isto explica por que observamos, hoje em dia, tamanha desavença, injustiça e devassidão sócio-cultural.

 

O que podemos fazer para reencontrar nosso aspecto divino?

 

Conforme explicado no item “3” do texto A Oração de São Francisco de Assis e reforçado neste presente, devemos buscar o equilíbrio. Cabe ao homem respeitar e harmonizar seus dois lados. O mundano e o divino. Não deixar que um sufoque o outro. Somente assim, poderá ser chamado de homem completo.

 

Os pecados capitais são equilibrados com as sete virtudes:

  • cardeais: Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança;

  • teologais: Fé, Esperança e Caridade (Amor).

É deste equilíbrio que trata o trecho da Primeira Epístola de São Paulo a Coríntios, reproduzida no caput deste texto, com evidente destaque à Caridade (Amor).

 

Nosso dever é buscar o equilíbrio. Para isto, primeiro, precisamos nos conhecer. Devemos atentarmo-nos a nossos pecados, ou seja, quando estamos dominados por um ou mais dos sete pecados capitais.

 

Uma vez identificados quais os pecados “nos deixamos cair em tentação”, devemos buscar, em nosso íntimo, a ajuda do Senhor, do Eu Superior, que manifeste em nós (o Vosso Reino), a virtude equilibrante do pecado.

 

Reiteramos que a busca deve ser o equilíbrio, não o abafamento. Pois, se tentássemos anular nossas falhas, que como vimos, são resultado de nossa resposta exagerada e errada aos desígnios instintivos, estaríamos tentando, indiretamente, abafar nossos próprios instintos. Nosso eu inferior deve se conciliar a nosso Eu Superior (Mt. 19: 5-6).

 

Obviamente, como dito em outros textos, não pretendemos fomentar a licenciosidade aos pecados.  Tudo o que for prejudicial ao homem e a seu semelhante deve ser evitado. Cabe a nós atentarmo-nos a nossas falhas e saná-las, pelo equilíbrio com as virtudes.

 

Como sugerido pela passagem bíblica reproduzida no começo deste texto, a cada pecado corresponde uma virtude, como a cada mulher corresponde um homem [Os termos “mulher” e “homem” não referem aos dois sexos humanos, mas aos aspectos feminino e masculino, ying e yang, que permeia todo o Universo. A errônea interpretação literal daqueles termos é uma das origens que levou algumas religiões a inferirem inferioridade das mulheres em relação aos homens].

 

Naquela passagem bíblica, podemos verificar a correspondência:

 

Línguas dos homens (pecados))

 

Equilíbrio:

 

 

 

 

Caridade (Amor)

Língua dos Anjos

(Virtudes)

 

 

inveja

amor

avareza

esperança

luxúria

prudência

ira

justiça

gula

temperança

preguiça

fortaleza

orgulho

 

A correspondência não é estritamente fixa. Em certas ocasiões, determinada virtude equilibra melhor determinado pecado. Em outro momento, uma virtude diferente da primeira seria o mais indicado ao equilíbrio. Cabe a nós o discernimento do correto equilíbrio. Este advém após o trabalho contínuo de esforços e tentativas.

 

O equilíbrio converge ao estado final: Amor. Deus é Amor. Quando o homem atinge o Amor, ele encontrou Deus.

 

Observemos nossos pecados e busquemos em nosso Eu as virtudes. Este é o Caminho para o Amor Divino.

 

 

 

 

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